Mindfulness e meditação mindfulness são a mesma coisa?
É frequente ouvirmos estes dois termos de forma arbitrária como se designassem a mesma coisa, mas na verdade importa distinguir os conceitos.
Mindfulness é um estado de consciência ampla e recetiva face à nossa experiência e que conjuga os elementos: consciência, atenção, intenção, momento presente, atitudes fundamentais. Este estado de presença consciente requer intencionalidade e o manter desta intencionalidade momento a momento, então quanto mais praticarmos, mais o estado de mindfulness se estabelecerá como um hábito natural da mente.
Curiosamente em diversas línguas, a palavra mindfulness é do género feminino (atenção plena no português, ou sati na língua páli) o que faz algum sentido em termos arquetípicos. O arquétipo feminino traduz-se nas qualidades de abertura, recetividade, sensibilidade, conexão afetivo-corporal que estão tão sintonizadas com a experiência de mindfulness.
A meditação mindfulness é uma de entre as incontáveis técnicas de meditação existentes. O objetivo da meditação mindfulness, como o seu nome indica, é cultivar e manter um estado de mindfulness. A meditação mindfulness utiliza objetos de meditação que facilitam o contacto com o momento presente, em particular usa frequentemente como foco de atenção as sensações do corpo, a respiração, os sons, as imagens, mas na verdade qualquer componente da nossa experiência pode ser usada como objeto de meditação, o que poderá incluir emoções, pensamentos, visualizações ou palavras.
A meditação mindfulness ajuda-nos também a treinar o equilíbrio no foco e amplitude da nossa atenção. Podemos em determinado momento focar a nossa atenção num determinado objeto de “área reduzida”, como por exemplo as sensações nas narinas, enquanto o restante da nossa experiência é percecionada em segundo plano, ou em pano de fundo. Desta forma treinamos um foco mais estreito o que ajuda a concentrar e unificar a nossa mente. Noutros momentos podemos abrir o foco de atenção para incluir aspetos mais abrangentes da nossa experiência, como por exemplo a totalidade do corpo, os sons, cheiros e imagens, ou até mesmo treinar uma consciência aberta sem qualquer restrição do campo de atenção, o que ajuda a ter uma perspetiva mais abrangente e que vê a interdependência de todos os fenómenos.
Outro aspeto que é treinado numa meditação mindfulness tem que ver com a intenção e atitudes que trazemos para a relação com a nossa experiência e nós mesmos.
Qualquer que seja a prática de meditação em causa, para que possamos colher os seus benefícios é essencial que seja um exercício vivencial e não fique pelo entendimento cognitivo do que envolve. Isto faz todo o sentido em termos evolucionários, já que o cérebro humano esteve exposto à aprendizagem vivencial durante milénios antes das formas de aprendizagem baseadas em linguagem e escrita terem surgido. No ciclo do desenvolvimento humano, a aprendizagem vivencial começa no útero, enquanto que as estruturas cognitivas necessárias à aprendizagem didática apenas se desenvolvem anos mais tarde. Como tal, faz sentido que os nossos cérebros sejam particularmente sensíveis à experiência direta.
Lembra-te de que o caminho da atenção plena, só começa a ser percorrido quando deixamos para trás os mapas e colocamos os pés no território da experiência.
Filipe Raposo
Outubro 2022