Meditação Mindfulness, Autocompaixão, Psicoterapia

Autocompaixão

mindful self-compassion

Texto baseado no programa validado empiricamente MSC – Mindful Self-Compassion, ou Autocompaixão baseada em Mindfulness, criado por Kristin Neff, Ph.D. e Chris Germer, Ph.D.

Se a tua compaixão não te inclui a ti mesmo, ela é incompleta.”, Jack Kornfield

 

Na arena da nossa vida quando enfrentamos os desafios, na bancada, a assistir, temos os nossos piores críticos: nós mesmos. No entanto, traz conforto saber que há uma cadeira importante que pode ser ocupada: a da auto-compaixão. Esta é a possibilidade de termos um aliado a apoiar-nos e a encorajar-nos, dizendo: “Tu consegues, vai em frente, estou contigo para o que der e vier”, ou “Não correu bem, mas fizeste o que podias. Continuas a ser digno”. Isto é sermos o nosso maior aliado assegurando-nos de que não nos vamos abandonar aconteça o que acontecer.

 

O que a Autocompaixão é

A auto-compaixão é um modo de nos relacionarmos connosco mesmos de forma corajosa, acolhedora, gentil e amorosa, aceitando-nos tal como somos, mesmo com as limitações e os aspetos menos agradáveis, em todas as circunstâncias da vida. A atitude compassiva dirigida a nós mesmos, não é algo intuitivo ou que surja naturalmente para a maioria das pessoas. De facto, o que a pesquisa parece indicar, é que cerca de 75% das pessoas é significativamente mais compassiva com outras pessoas do que consigo próprio. No entanto, é possível cultivar esta qualidade de forma a torná-la presente nas nossas vidas como fonte de coragem, aceitação e resiliência. É de extrema importância atendermos ao tom do nosso diálogo interior, pois é certo que parte de nós vai estar à escuta. É com base nessa escuta que traçamos a nossa auto-imagem e as nossas crenças.

 

O que a Autocompaixão não é

– Ter pena de nós mesmos

O sentimento de piedade e comiseração é uma atitude paralisante de impotência face ao sofrimento e que não tem a componente de querer agir para minorar esse sofrimento

– Um sentimento de indulgência ou egoísmo

Na verdade, na medida em que conseguirmos abrir o coração para nós mesmos, assim teremos mais disponibilidade para dar aos outros.

– Ser fraco

Na verdade, o que a pesquisa científica tem mostrado é que a autocompaixão é uma das maiores fontes de força e resiliência que temos disponíveis em nós.

– Criar desculpas para fugir a responsabilidades

De facto, a pesquisa mostra como as pessoas com maior autocompaixão são mais responsáveis por elas mesmas e as suas ações, tentando corrigir situações em que estiveram aquém.

– Uma forma de minar a nossa motivação

Há pessoas que acreditam que necessitam da auto-critica como motivação para atingir objetivos. No entanto se nos auto-flagelarmos cada vez que errarmos, vamos chegar a um ponto em que teremos medo e nem sequer vamos tentar, ao passo que se soubermos que nos iremos suportar se algo correr mal, teremos maior coragem para enfrentar desafios. A autocompaixão aumenta a motivação, não a mina, nem nos torna preguiçosos.

– Aceitar incondicionalmente comportamentos nocivos

O desejo compassivo de mudança de um comportamento nocivo não surge por sermos inaceitáveis tal como somos, parte sim de um sentido de cuidado, parte de uma vontade de estarmos bem. Ao passo que o desejo de mudar com autocrítica parte do medo. Medo do que possa acontecer, medo de não sermos dignos se o comportamento não mudar.

 

Componentes essenciais da Autocompaixão

 

Atenção Plena (mindfulness) Vs. Sobre-identificação – Mindfulness é a capacidade de prestar atenção ao que está a acontecer no momento presente, tal como está a acontecer, com uma qualidade de aceitação sem julgamento. Não é um pensamento acerca do que está a acontecer, mas a própria experiência direta através do corpo e da mente. O pensamento é uma representação da realidade, não é o contacto direto com a realidade. Podemos observar um pensamento como um evento mental que surge e desaparece, se não o “agarrarmos” e se não nos identificarmos com ele.

Esta atenção plena surge em cada momento em que estamos presentes e abertos à experiência tal como está a surgir no momento. A tendência natural da mente é: pensar; criar um sentido de eu; e detetar problemas. Este é um mecanismo natural de sobrevivência. Mas com atenção plena podemos estar presentes à emoção difícil sem entrarmos na história elaborada da emoção e podemos parar a auto-critica assim que surge. Isto é importante porque enquanto estamos na narrativa que vem da emoção difícil, ou enquanto estamos dominados pela voz da auto-critica e auto-flagelação, não vamos conseguir usar a perspetiva da humanidade comum nem trazer a atitude de amor generoso e altruísta. Atenção plena é uma atitude de presença corajosa, é estar aberto às nossas dificuldades e às nossas lutas a cada momento, permitindo que a compaixão surja.

 

Humanidade comum Vs. Sentido de Isolamento – Quando nos acontece algo que nos causa sofrimento, imediatamente pensamos que alguma coisa correu mal e isto não deveria estar a acontecer. Este sentimento cria uma sensação de isolamento e anormalidade. Como se todas as restantes pessoas estivessem a viver vidas perfeitas e fui só eu que falhei, foi só a mim que isto aconteceu. A pergunta: “Porquê eu?” leva-nos pelo caminho da auto-comiseração e indignação – que são inimigos próximos da compaixão.

Há um tipo de sofrimento muito subtil de que poucas pessoas se apercebem e que vem da auto-critica. Aquele sussurro ao ouvido que nos diz: “Não és suficientemente bom”, “És sempre a mesma coisa”, “Há algo de errado contigo, estás estragado”.

É importante compreender, que, acolher e honrar a imperfeição, é uma parte crucial da experiência humana. Quando falhamos e cometemos erros, isso não é o que nos separa dos outros, mas sim o que nos une.

 

Amor altruísta Vs. Auto-julgamento – este componente toma a forma de uma vontade ativa de nos confortarmos e de nos trazermos calma como faríamos com o nosso melhor amigo. É uma atitude calorosa de nos acolhermos com ternura e nos permitirmos, em oposição a entrarmos pelo caminho da auto-critica feroz como tantas vezes acontece. Este amor generoso em relação a nós próprios envolve a questão: “O que é que eu preciso emocionalmente neste momento?” e de seguida ter a motivação para nos darmos o que necessitamos. Com a compaixão aceitamos que somos imperfeitos e com a qualidade do amor altruísta somos gentis connosco, mesmo no meio da nossa imperfeição.

 

Há um ditado que diz: “O amor revela tudo o que é diferente dele mesmo”. Isto significa que quando nos damos o amor que nos foi negado por tanto tempo, este amor vem revelar todas as defesas que criámos para sobreviver. Quando nos damos amor incondicional, tornam-se evidentes todas as condições que nos foram impostas para sermos amados. É aí, quando o amor vem mostrar as nossas feridas, que se torna necessário trazermos pela mão a nossa criança interior e dizermos-lhe constantemente ao ouvido: “Estou aqui contigo, podes ser quem és”.

 

Filipe Raposo

Escrito em Outubro de 2016

Foto de Mitchell Hollander em Unsplash

 

 

Links Sugeridos

 

Apresentação pela Dr.ª Kristin Neff acerca dos componentes essenciais da Auto-Compaixão:

http://ed.ted.com/on/zhq011AI

 

Teste online desenvolvido pela Dr.ª Kristin Neff onde é possível avaliarmos o nosso índice de auto-compaixão:

http://self-compassion.org/test-how-self-compassionate-you-are/

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